Questionado sobre a possibilidade de deixar o cargo caso seja oficialmente indiciado no inquérito que investiga a intermediação do contrato com a VaideBet, o presidente foi enfático:
"Jamais. Não tenho nada a ver com isso. Tudo o que faço é acompanhado pelo jurídico e pelo compliance. Nunca sentei com ninguém sozinho. Estou aqui pelo Corinthians, não preciso do Corinthians."
A declaração vem após a realização de mais de 20 depoimentos colhidos ao longo de quase um ano de investigação. Além de Augusto, também prestaram esclarecimentos o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, e Alex Cassundé, sócio da agência que intermediou o contrato.
Segundo o advogado do presidente, Ricardo Cury, não há elementos para que Augusto seja indiciado:
"A defesa tem segurança total de que ele será excluído do processo. Não há nenhuma ação ilegal praticada por ele. Todo o início desse caso está relacionado a uma matéria jornalística e, desde então, apresentamos toda a documentação necessária."
A investigação é liderada pelo delegado Tiago Correia, da 3ª delegacia especializada em lavagem de dinheiro, e acompanhada pelo promotor do Ministério Público Juliano Atoji.
Outro ponto abordado com veemência foi a reprovação das contas referentes a 2024 pelo Conselho Deliberativo. A acusação de gestão temerária paira sobre a presidência, impulsionada por um passivo de R$ 829 milhões e uma dívida específica de R$ 181,7 milhões apontada por órgãos fiscalizadores.
Augusto reagiu com firmeza:
"Essa dívida não é minha. Se houve erro, que paguem por ele. Eu trouxe receita, gerei R$ 1 bilhão. Estamos projetando R$ 1,3 bilhão. Não vou aceitar essa narrativa. Jogaram uma dívida monstruosa na imprensa como se eu tivesse contratado Messi e Cristiano Ronaldo e não soubesse."
A diretoria alega que herdou contingências de R$ 191 milhões da gestão anterior, comandada por Duilio Monteiro Alves, e chegou a solicitar a reabertura das contas auditadas de 2023. O relatório interno registra um superávit de R$ 9 milhões no exercício, com um saldo positivo de R$ 12 milhões no primeiro bimestre de 2025.
"Sempre deixei claro: eu não errei. Está provado. Se for necessário, abrirei uma sindicância policial para mostrar como se chegou a essa dívida de R$ 2 bilhões", disse Augusto.
O balancete publicado em março reforça o discurso da presidência. O Corinthians apresentou superávit de R$ 12,1 milhões no acumulado de janeiro e fevereiro deste ano. O departamento de futebol, sozinho, foi responsável por R$ 26,4 milhões de resultado positivo.
A arrecadação chegou a R$ 157 milhões, distribuída entre direitos de transmissão (R$ 78,6 milhões), patrocínios e publicidade (R$ 35,8 milhões) e bilheteria (R$ 19,1 milhões). O gasto com futebol foi alto (R$ 117 milhões), mas manteve o resultado operacional no azul. Já o clube social apresentou déficit de R$ 356 mil.
O grande vilão financeiro, segundo o relatório assinado por Marco Túlio Garcia, foi o pagamento de R$ 14 milhões em juros da dívida herdada.
Apesar das dificuldades, Augusto Melo reafirmou que o Corinthians será ativo na próxima janela de transferências. O técnico Dorival Júnior não fez exigências públicas, mas a diretoria trabalha nos bastidores para atender às carências do elenco.
"Não vou medir esforços. Estamos buscando jogadores pontuais. Hoje o Corinthians é atrativo novamente. Ano passado, fomos ao Paulista com 15 atletas. Hoje, todos querem jogar aqui."
Até o momento, o clube contratou apenas o lateral Fabrizio Angileri, vindo do Getafe, da Espanha, sem custos. A diretoria também deve atuar para segurar nomes valorizados, como Yuri Alberto, alvo de clubes da Inglaterra, e Breno Bidon, destaque da Seleção Sub-20.
As declarações desta sexta-feira escancararam as divisões políticas dentro do Corinthians. O cenário atual é um tabuleiro delicado: uma gestão que promete modernização e responsabilidade, mas enfrenta sérias acusações e questionamentos internos. A possibilidade de abertura de um processo de impeachment, caso as irregularidades sejam confirmadas, não está descartada nos bastidores do Parque São Jorge.
Enquanto isso, Augusto Melo segue apostando em transparência, combate à narrativa midiática e solidez jurídica como pilares para se manter no cargo. Seu discurso mira não só a defesa da imagem institucional, mas também o apoio da torcida.
"O Corinthians é a maior audiência do país. Eu estou aqui para elevar esse clube ao maior patamar do futebol brasileiro."
Augusto Melo se mantém na linha de frente de uma gestão que combina momentos de alívio no campo financeiro e esportivo com pressão política constante. O caso VaideBet, as contas reprovadas e o passivo bilionário são obstáculos reais. No entanto, a promessa de reforços, os superávits recentes e a reafirmação de liderança mostram que o presidente ainda tenta escrever sua própria narrativa de reconstrução corintiana.
O próximo capítulo será decidido nas urnas internas, nas arquibancadas e, possivelmente, nos tribunais.