O torcedor do Corinthians amanheceu nesta semana com mais um tapa na cara da realidade: o clube perdeu, sem oferecer resistência, o atacante Kauê Furquim, de apenas 16 anos, para o Bahia, após o clube nordestino pagar a baixa multa rescisória nacional de R$ 14 milhões. A transação expõe, mais uma vez, o despreparo da diretoria corintiana na gestão de seus ativos, principalmente no que diz respeito ao maior patrimônio de um clube brasileiro: a base.
O caso beira o absurdo. Kauê havia assinado seu primeiro contrato profissional em abril deste ano. De lá pra cá, não só se destacou nas categorias inferiores como também passou a frequentar os treinos do time principal no CT Joaquim Grava. Foi relacionado para partidas do Brasileirão, contra Ceará e Fortaleza, e já despontava como uma das grandes apostas recentes do clube.
Mas nada disso foi suficiente para que o Corinthians se mobilizasse internamente para blindar o jogador — nem em termos contratuais, nem em termos estratégicos. A multa rescisória nacional foi fixada no mínimo legal (duas mil vezes o salário do atleta), sem nenhuma tentativa de renegociação ou valorização à medida que sua presença no elenco profissional aumentava. Um erro grosseiro para um clube que se diz atento ao “DNA revelador”.
Mais alarmante ainda é a desorganização estrutural revelada pelo episódio: a diretoria do futebol profissional sequer foi comunicada da negociação. O Bahia notificou diretamente o departamento de base, que viu o atleta ser retirado sem que o setor profissional — que usava o jogador nos treinamentos — tivesse qualquer tipo de controle ou envolvimento.
Esse tipo de descompasso não é novidade, mas segue sendo inaceitável. O Corinthians já perdeu nos últimos anos nomes como Robert Renan, Murillo, Felipe Augusto, entre outros, por valores aquém do potencial — e quase sempre com o mesmo pano de fundo: gestão falha, contratos frágeis e reação tardia.
Enquanto clubes como o Bahia, agora controlado pelo Grupo City, tratam jovens talentos como ativos valiosos de um projeto de futebol moderno e integrado, o Corinthians parece seguir tratando suas promessas como peças descartáveis, ou pior, como produtos mal precificados à disposição do mercado.
No fim das contas, o Bahia leva Kauê, o jogador ganha visibilidade num projeto mais estruturado, e o Corinthians fica com o mesmo discurso de que “não sabia”, “foi pego de surpresa” ou “vai apurar internamente”.
Já passou da hora do clube rever com seriedade sua política de base, criar um plano de carreira real para jovens atletas, e principalmente, deixar de agir como se não soubesse o valor do que tem nas mãos.
Porque se continuar assim, o Timão não vai apenas perder jogos — vai seguir perdendo dinheiro, talentos e, principalmente, o respeito da própria torcida.