O volante se emocionou em diversos momentos de sua última entrevista pelo Timão, disse que o futuro está indefinido e que não pensa em aposentadoria; seu ciclo se encerra com 40 gols e quatro títulos.
Paulinho não segurou as lágrimas na despedida do Corinthians. Depois de chorar no gramado da Neo Química Arena na última terça-feira, o volante de 35 anos se emocionou em vários momentos durante a última entrevista como jogador do Timão, ocorrida nesta quarta, no CT Joaquim Grava. Segundo o meio-campista, o futuro ainda não está definido.
– Corinthians significa tudo na minha vida. Muito do que conquistei na vida, devo ao Corinthians. Ser Corinthians é entender a pessoa que arruma tua cama, a pessoa que cozinha para você, quem prepara tudo para você ir lá e jogar – destacou o volante.
– Em uma das partidas, falei no vestiário: Corinthians nunca vi exigirem craques, exigem vontade, garra e ter amor pelo clube. Isso só existe aqui, já passei por outros lugares, outros clubes, Seleção, esse clube me deu a chance de jogar na Europa. Nunca vi nada igual. Esse clube pode levar as pessoas a lugares que não imaginam. Não falo isso da boca para fora e nem para agradar, falo a verdade – acrescentou.
O meio-campista diz que enxergou um “fim de ciclo”, assim como o companheiro de título mundial Cássio.
A cerimônia de despedida de Paulinho começou com uma homenagem do clube. Os vice-presidentes Osmar Stábile e Armando Mendonça entregaram uma camisa enquadrada com o número “infinito” nas costas. O presidente Augusto Melo, em viagem na Inglaterra, não esteve presente.
Posteriormente, veio o primeiro momento de emoção do volante. A mulher Vivian e os filhos entregaram uma placa para o jogador. O camisa 8 ainda recebeu um abraço do torcedor Lucas Vieira, imortalizado na comemoração do gol contra o Vasco, pela Libertadores de 2012.
Em meio à emoção e à tentativa de expressar em palavras o significado do Corinthians na carreira, Paulinho abordou rapidamente o futuro, ainda sem destino.
A iminência de fazer o sétimo jogo no Brasileirão, que vetaria transferências para outros clubes da Série A, antecipou a saída antes do fim do contrato, em 30 de junho. Paulinho, no entanto, recebeu sondagens recentes de Vissel Kobe e Urawa Red Diamonds, do Japão.
– Não tenho destino e nem proposta oficial. A questão do sétimo jogo é que eu conversei para ter a chance de jogar em outro clube brasileiro. Até para eu não atrapalhar aqui. Tive várias conversas com o presidente, Fabinho (Soldado). Quando falamos de extensão de contrato, sempre falamos até dezembro e depois veríamos se fica ou não – comentou.
– Todas as conversas foram para renovar até dezembro, mas vi que agora seria o final do ciclo. Tenho como projeção jogar até quando eu ver que tenho que parar. Se for dezembro, vou parar. Não tenho problema algum com isso. Vou deixar Deus me levar para ver até onde posso chegar. Me cuido – filosofou o camisa 8.
– Em 2013, quando saí, eu falei que voltaria. E voltei. Quando voltei, tive altos e baixos, rendimento dentro de campo, e existiram duas lesões que me complicaram. O respeito, carinho e amor que tenho pelo clube ficaram intactos. Não quis terminar com essas lesões. Mas hoje estou bem, recuperado, 100%. O ciclo se encerra, vejo de uma forma natural. Respeitei o meu momento. Hoje tem lideranças dentro do clube.
– Eu tive o privilégio de ser mais líder nos últimos cinco meses. Tentei mostrar para esse elenco o que um líder pode fazer. Deixei legado, tenho certeza. Para eles enxergarem o que é e como é o Corinthians: se doem, treinem, joguem porque tudo passa rápido. Esse clube pode te levar a lugares inimagináveis. Me levou para a Seleção, Copa do Mundo, Europa. Deixei meu legado: Paulinho é isso daí.
– Achei que não iria me emocionar, mas é difícil. Não tinha dimensão do que fiz dentro desse clube, me questionei se merecia tudo isso. Dentro da instituição, a gente não tem o discernimento. Em casa, vi que deixei legado e história. Construí essa história dentro do campo, sendo profissional.
– Saio com a cabeça erguida, dei tudo pelo clube, com amor e lealdade. Respeito, que é o que o ser humano precisa. Saio com o dever cumprido. Os que chegarem precisam aprender a cultura corintiana, vão entender o que eu estou falando, porque esse clube é diferente.
– Vou lembrar de todos esses anos. Uma segunda passagem difícil, difícil passar quase 500 dias sem jogar devido a duas lesões. Isso não fez com que eu baixasse a guarda, tive profissionais aqui dentro, fisioterapia, médicos, que me fizeram não desistir, minha família.
– Falei que não poderia parar de jogar por uma lesão, por mais difícil que seja. Vou parar um dia, mas jogando, em campo. Meus filhos, meus pais, minha mulher, vocês não podem me ver parar por uma simples lesão. Não desisti. Essa, juro por Deus, é muito difícil. Vou continuar jogando.
– Aquele ditado: "é mais fácil você apanhar do que eles". Eu escolhi ser assim. Yuri passou momentos bem difíceis aqui. É um menino. Quem está aqui, precisa se preparar. Quem joga aqui, joga em qualquer lugar do mundo. Precisa de cautela e calma de falar, falei para ele que tinha condições de fazer seu trabalho.
– Vou seguir ajudando. Sei que eles vão precisar de mim ainda para conversar. Momentos difíceis. Eu sei que vou fazer falta, mas eles também não sabem o quanto vão fazer falta, também. Mas, infelizmente, chegam os fins dos ciclos.
– Recebi uma mensagem ontem de um amigo: você tem noção de que daqui a 50 anos, você vai ser lembrado? Você construiu uma história e deixou um legado. Muitas vezes falei que não era ídolo dentro e fora, mas sou. Muitas vezes, esquecia de mim. O quanto eu sou bom, leal, verdadeiro. Preciso ter orgulho de mim, desde ontem eu sou assim. Não sei se mereço tudo isso, mas cheguei em casa e falei: mereço. São 19 anos como jogador profissional. Essa história é para sempre. Vai ficar gravado.
– Só a oportunidade de eu ter jogado aqui já é o céu para mim. Fazer parte de tudo isso daqui (taças) nem sei mais o que falar. Nunca imaginei. Sai do Parque Novo Mundo, não imaginaria que chegava, mas cheguei. Fui feliz. Trabalhando.
– Tudo o que eu conquistei foi ali dentro de campo, conquistas, contratos, trabalhando. O céu foi chegar aqui dentro. Não é fácil. Imagina se manter por todos esses anos. Sou privilegiado e feliz.
– A situação do gol do Vasco foi muito fora da curva. Está um passo à frente de tudo. Vivi momentos aqui muito especiais. Coisas boas, momentos ruins, mas quando você vive algo ruim, te faz crescer e evoluir. Evolui como atleta, como homem e ser humano. Nada a questionar. Só gratidão.
– Cada um tem suas decisões, forma de gerir. A decisão do Cássio é dele, a do Paulinho é exclusivamente do Paulinho. Quando eu sento com a diretoria, digo que o ciclo se encerrou. Não tem um motivo específico. Cássio para mim é um dos maiores ídolos do clube. Ruim para falar. Não tomei decisão em cima da dele. A minha é minha. Achei que era o momento de encerrar essa história linda. Vou ficar marcado por 50, 100 anos.
– Ainda não terminou minha carreira. Eu e o Ralf tivemos momentos marcantes, até difícil comparar. Eu tenho minha opinião própria. O meu parceiro foi ele. Eu conheci ele dentro e fora de campo, é meu amigo, meu irmão. Tivemos momentos difíceis. Falava comigo 24 horas por dia, dizia para eu ver o que era melhor. Eu coloco com certeza o Ralf como meu maior parceiro dentro do clube.
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